Definição
A constipação intestinal, também conhecida por ”intestino preso” e “prisão de ventre”, constitui um problema frequente na população geral de todo o mundo. É caracterizada pela dificuldade, constante ou eventual, de eliminação das fezes (evacuação), levando ao desconforto e outros transtornos ao paciente. Acomete ambos os sexos e todas as faixas etárias, porém é mais frequente nas mulheres.
Trata-se de um sintoma e não de uma doença especifica. Pode, no entanto, indicar alguma manifestação de doença que necessite investigação para o diagnóstico.
Causas
Na maioria dos casos a constipação intestinal não é provocada por um distúrbio de ordem física ou anatômica do trato intestinal. A causa mais comum é a propulsão difícil do bolo fecal em seu caminho em direção ao reto e canal anal. Neste caso, denomina-se constipação primária ou essencial, sendo responsável por 85% ou mais dos casos e é provocada pela ingesta alimentar pobre em água, fibras e vegetais. Outros fatores podem estar associados e este tipo de constipação, como o sedentarismo ( falta de exercícios físicos), a ansiedade, depressão, o hábito de adiar a ida ao banheiro e os efeitos adversos de algumas medicações, colaborando para alteração ou piora do funcionamento intestinal. A constipação pode, ainda, ser um sintoma associado a doenças de gravidade variada. Em combinação com outras manifestações como perda de peso, inapetência, dor, cólicas, sangramento, anemia e associados a massa abdominal palpável podem ser entendidos como “sinais de alarme”, indicando a necessidade de uma adequada avaliação médica.
Apresentações
São consideradas constipadas as pessoas que apresentam: a) queixas de eliminação de fezes endurecidas; b) frequência de defecação menor do que três vezes por semana; e/ou c) sensação de esvaziamento incompleto do reto. Em crianças menores, que ainda não conseguem relatar seus sintomas, a constipação deve ser considerada na presença de movimentos intestinais dolorosos, acompanhados de desconforto, gritos e manobras para não eliminar as fezes. A eliminação de fezes endurecidas, em cíbalos ou fragmentadas, de difícil saída, é também considerada constipação, mesmo que a frequência seja normal.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da constipação primária é essencialmente clínico, sendo o exame proctológico parte importante. Habitualmente a constipação primária não necessita de investigação complementar específica, podendo ser iniciado o tratamento com o aumento da ingesta oral de fibra vegetal, principalmente por orientação dietética nutricional adequada, ou com adição complementar de fibra e aumento da ingesta de água. A melhora do quadro clínico com estas medidas e na ausência de outras alterações confirma o diagnóstico. O paciente deve ainda ser estimulado a alterar hábitos de vida, evitando o sedentarismo, praticando atividade física equilibrada e em alguns casos selecionados, abordagem psicoterápica pode complementar a terapêutica adequada.
Condições especiais
Em alguns casos, a constipação pode surgir como manifestação secundária de doença sistêmica ou gastrointestinal. Nestes casos, apresenta-se de forma aguda ou insidiosa, devendo ser investigada através de exames complementares que podem incluir a exames de imagem e a colonoscopia. Nos últimos anos, o melhor entendimento da fisiologia colônica e da defecação, motivaram o desenvolvimento de novos métodos diagnósticos, que têm sido de grande ajuda para o tratamento de diversas causas de constipação, antes não diagnosticadas. Estas outras causas estão relacionadas a distúrbios da motilidade do bolo fecal desde o cólon até o reto e, finalmente, o ânus. Dentre estes exames, destacam-se a manometria anorretal, o tempo de trânsito colônico, e os estudos dinâmicos do ato evacuatório (videodefecografia e defecorressonância). Tais avaliações são de grande ajuda nos casos que não respondem à terapêutica convencional, podendo diagnosticar a falta generalizada de contração do cólon, conhecida como inércia colônica. Também pode demonstrar a presença de distúrbios funcional ou anatômico do assoalho pélvico que impedem a adequada evacuação, denominado defecação obstruída.
Tratamento complementar e específico
O uso de laxativos e outras medicações na constipação primária deve ser considerado como terapêutica complementar, sendo associados à medidas dietéticas e comportamentais. Isoladamente, os laxantes não possuem efeito curativo. O uso abusivo e indiscriminado subestima a base do problema, dificulta as abordagens terapêuticas e podem inclusive prejudicar o funcionamento intestinal a longo prazo.